A crescente pressão para a transição para uma economia de baixo carbono, juntamente com os desafios econômicos, ambientais e regulatórios, coloca as operações logísticas no centro de um grande dilema: como balancear eficiência operacional com responsabilidade socioambiental? As cadeias de suprimentos são cada vez mais complexas, e a operação logística deixou de ser apenas um elo funcional — tornou-se uma plataforma estratégica de valor. Nesse cenário, as empresas enfrentam um problema central: como integrar a sustentabilidade de forma prática e eficaz em suas operações logísticas, sem comprometer a competitividade e a eficiência.
A resposta a esse desafio não vem em soluções prontas ou padrões universais. A sustentabilidade é uma jornada e o que realmente importa é o direcionamento e as escolhas feitas ao longo do caminho.
Nas operações logísticas voltadas ao baixo carbono, o caminho da sustentabilidade passa por escolhas tecnológicas e operacionais que integram transição energética, uso inteligente de recursos e práticas colaborativas. Biocombustíveis e eletrificação para a mobilidade urbana não são apenas tendências — são respostas estruturais e viáveis. A eficiência energética ganha protagonismo quando se aplicam malhas logísticas inteligentes, roteirizações otimizadas e modalidades combinadas de transporte. Essas práticas não apenas reduzem emissões, mas também diluem custos, tornando a operação mais competitiva.
Mesmo nas operações que ainda dependem fortemente do diesel, existem avanços significativos a serem feitos. A renovação de frotas, a manutenção preventiva e a formação de condutores focada em direção econômica, com programas com “master drivers”, são ferramentas poderosas que podem transformar as operações, proporcionando uma melhoria contínua na eficiência.
Entretanto, um dos maiores obstáculos é a ausência de mensuração precisa. Não se gerencia aquilo que não se mede. A mensuração das emissões, utilizando frameworks robustos como o GHG Protocol e validação por terceiros, não só permite comparar e melhorar, mas também fornece os dados necessários para comunicar o progresso. Tornar públicas essas informações e estabelecer metas claras de redução não é apenas um gesto de transparência; é uma sinalização de compromisso e maturidade organizacional. Esses dados fortalecem a governança e influenciam decisões estratégicas em toda a cadeia de suprimentos.
Neste contexto, é essencial estabelecer claramente os papéis e responsabilidades entre tomador e prestador de serviços logísticos. O embarcador tem a responsabilidade de buscar parceiros logísticos integrem práticas sustentáveis em suas operações. Para isso, deve incluir critérios de sustentabilidade em seus processos de qualificação de fornecedores, demandando relatórios de emissões de gases de efeito estufa, de preferencia verificados por terceira parte, aderência a certificações como Sistema B e Ecovadis, e a transparência nos relatórios de sustentabilidade assegurados por empresas independentes. Estes frameworks oferecem mais do que uma nota — oferecem uma bússola. São sistemas que ajudam a qualificar as práticas ambientais, sociais, éticas e de compras sustentáveis, construindo gradualmente uma trajetória sólida através das políticas, processos, indicadores e certificações, que são reconhecidos por diferentes stakeholders como entidades financeiras, clientes e comunidade em geral.
Por outro lado, o prestador de serviços logísticos (operador logístico) deve ir além do simples cumprimento das exigências, adotando práticas proativas e inovadoras que vão gerar resultados concretos, não apenas em termos de redução de emissões, mas também em eficiência operacional, gestão de riscos e competitividade no mercado.
Avançar na jornada da sustentabilidade não exige perfeição, mas sim intenção e clareza de propósito. Diferentes operadores logísticos podem estar em estágios variados dessa jornada, e isso é esperado. O mais importante é estar em movimento, com uma visão clara do impacto social, econômico e ambiental das decisões tomadas. O valor na logística, assim como em qualquer jornada de transformação, não está apenas no destino — está em como se escolhe caminhar, juntos, em direção a um futuro mais sustentável.
Marcos Azevedo | Head de Sustentabilidade – Bravo Serviços Logísticos